From deep inside...

9.10.09

Transportes Lúdicos

Sim , leram bem ... Transportes Lúdicos. deviam chamar se assim os transportes públicos. Não me vejo sem eles na minha vida por incrível que pareça. Aqueles 20 minutos de barco... mais a meia hora de autocarro até o trabalho são me imprescindiveis e a razão é simples. Não é que os autocarros em Lisboa sejam o exemplo da eficácia. Não o são, mas também já o foram menos.
A razão detém se no facto que essa hora que faço praticamente todos os dias em transportes publicos são a parte do meu dia que mais me enriquece sociologicamente falando.
Passo a explicar:

Quando trabalhava em Miraflores apanhava o comboio até Algés... nele circulavam de manhã vários pedintes mais ou menos barulhentos... mas havia um, velhinho... curvado que passava tão silêncioso e que apenas estendia a mão. Não tenho por habito dar esmolas mas naquela manhã tinha uma peça de fruta na mala que lhe entreguei e que ele me retribuiu com um olhar de agradecimento silencioso apontando para a boca em sinal de incapacidade. Era mudo, mas o seu silêncio falava mais alto que todas as vozes e comunicou comigo apenas num olhar e num gesto por breves segundos. Sempre que o via lançava lhe um sorriso.

Hoje lembrei me dele. Já não apanho o comboio mas pela janela do autocarro vejo tanto... coisas que me seria impossivel de ver se fosse a conduzir embrenhada na minha vidinha do dia a dia. Hoje vi o jovem de mochila ás costas sentado numas barras de ferro que protegem a zona do passeio, da estrada. Ele aproveitava para prender os pés na barra inferior e praticava os seus abdominais nos intervalos dos semáforos enquanto os carros não passavam. Estava divertidissimo. Na correria das pessoas ele destinguia se pelo aparte do contexto.

Faço este exercicio todos os dias e ainda bem que o posso fazer. É um autentico manancial de inputs sociologicos que estimulam a minha enferrujada criatividade. Assim desta forma posso observar o quotidiano de uma forma diferente...ver me até como se estivesse fora de mim e eu fizesse parte de um filme.

Para mim os transportes... são lúdicos.

7.10.09

Não me posso esquecer.

Porque somos tão frágeis ao vento...
Ao sabor da intempérie nos curvamos para não partir. Porque nos rendemos à falta de tempo que nos consome e nos deixa ainda mais frágeis.
Somos ausentes de nós mesmos quando deixamos que a vida nos passe. Quando não a fazemos parar nem que seja para falar com ela um pouco, para a escutar, e acarinha la cá dentro antes de a deixar prosseguir.

Ás vezes sinto que não chego para tudo. Que não me consigo desdobrar para todas as pessoas que amo na vida. E o tempo é tão pouco ... é sempre tão pouco para quem gostamos. Pessoas que não vejo há tanto tempo, amigos com quem não partilho tantas coisas mas que continuam tão presentes no meu coração... será que eles sabem? Colegas de trabalho que deixei mas que se transformaram em amigos que muito admiro mas que a vida faz com que não tenhamos tempo para os rever... para não falar da familia... aquela que nos criou, com quem crescemos e á qual ás vezes menos damos porque sabemos que está sempre lá.

É tão facil dar as coisas como garantidas.... é tão mais cómodo que além de todas essas pessoas até nós mesmos nos damos como garantidos e nos esquecemos de ser quem somos...

Tenho de ter tempo para não me esquecer.